Sergio Souza
Céu avermelhado, paisagem seca, mandacaru por companhia, no horizonte um pouco de esperança, no destino esta bitola natural serpenteando o quase nada, respiro fundo uma gota d´água e sigo em frente enfrentando o sol, a morte, a solidão e a vontade e no meu matulão uma vontade de chegar para morrer onde a vida existe, onde, se o perigo persiste, Deus espelhou o céu.
Ouvi falar, muito ao de leve, sobre outros companheiros por esse mundão imenso de meu Deus, amigos que correm trás-os-montes, que se enchem para dar vida aos lados ressequidos, amigos que até estão na história dos homens e de Cristo (louvado seja), amigos que nascem no estrangeiro feios e finos e viram mar em terras brasilis, falando assim e olhando para esse mundão de terra para velejar, vou me sentindo um desbravador, um conquistador, como um tal Cabral, tão Cabral como aquele que me disse sem plumas e me chamou de cão, tão andarilho como aquele Severino de tão severa vida, que morreu antes mesmo de viver, de palavras tão secas quanto às vidas gracilianas, que tão secas eram graciosas gracilianices da miséria humana, e os tais cabrais tão cabras como o cabra que era Fabiano, e minha esperança é tão vitoriosa como das sinhás do sertão.
Mas seu moço-menino é hora de parar com esse proseio todo, pois o sol não abranda e o caminho é todo um destino comprido como a saga de Antonio, o conselheiro do sertão, e meu caminho é uma enfiada tal igual um canudo de zarabatana; avisa a Rosinha, seu moço, que eu volto, quando a pedra virar lama e a secura do mandacaru virar flor, avisa lá aos fortes destas terras que uma esmola para quem é são mata de vergonha ou vicia o cidadão, a hora é chegada, quero partir com saudade de mim, para quando lembrar do senhor, seu moço é com a lembrança de ti, vou escrevendo minha história de poço em poço, de açude em açude. Adeus seu moço, vou buscar minha vida na hora que me entregar ao misterioso, portanto ainda o enterro espere no portal que o defunto ainda respira.
Já fiz destas veredas minha eternidade, por aqui ando e perneio todos os anos fugindo da seca nas asas brancas da esperança de um dia não fugir mais disso não, voa sanhaço, voa beija-flor; corta caatinga, corta canavial, corta sisal; dança frevo; dança maracatu, olha a casa grande e a senzala, lá vem o Bacalhau do Batata; ó linda imagem que seduz, Olinda, e como uma Maria-fumaça cortando e costurando feito agulha endoidecida fazendo união, como aquele irmão da Serra da Canastra – Vou-me encontrar com ele lá no riachão, que é o fim de tudo – daqui donde estou, já avisto um horizonte esverdeado da mata da zona, o vento parece já ter frescor e o volume vai se aumentando, arrastando terra, abraçando as pedras; por entre sons e jaqueiras, crianças molhadas, mulheres lavadeiras, roupas nos varais de cordéis, vitalinos, mestres santeiros, lampiões caolhos e marias bonitas (mulheres damas), vou despencar..., lá vem usina; olhe lá, seu moço, que tanto de perna é aquele no meu caminho? Não é perna não, seu moço, é palafita é gente que mora em cima de mim, puxa o guaiamu, retira o peixe, lá vem sujeira, sai da frente, seu mestre, lá vem besteira em turbilhão molhando a esperança de um dia não esperar por mais nada não; corta rua, corta ponte, corta o holandês, corta a Rua da União, onde desfraldam bandeiras e jogam feijão queimado na casa onde dormem a tristeza e a alegria de Totônio Rodrigues.
Vejo já bem perto o azul do azul que se mistura nesta massa nem verde nem azul e é para lá que eu caminho, é lá quero me misturar com aquele irmão de nome de santo, São Chico dos Necessitados, que me traga um gosto de piqui, e lá quero rever o irmão do norte cheio de verde-mata que mata de orgulho quem vem da caatinga rala, podem chamar os carregadores que o defunto quer ir embora, avisa lá que eu vou sublimar um dia e voltarei para de novo fertilizar a as pedras com meu suor, adeus mestres carpinas, adeus coveiros de Santo Amaro e Casa Amarela, adeus Recife belo, adeus Recife triste como a casa do meu...avô.
Enterrem as minhas lembranças á sombra do umbuzeiro e escrevam na pedra da lama – Capibaribe!
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