Quis escrever um poema para falar de você, quis escrever um verso que não saiu da mente, nem caiu no papel, não escorregou pela língua, não conseguiu se justificar na quadratura das páginas, quis escrever um poema para lhe dizer que ontem chorei de saudade de você, que tudo que vivemos não desapareceu dentro de mim, que o quê você me disse não foi o fim, que todas as vírgulas representam nossos tropeços, que nem todos os pontos são nosso final.
Quis, ontem, escrever uma poesia para você, para falar das nossas distâncias e da vontade que eu sinto de você, da necessidade que é tocar suas mãos e receber seu beijo na hora qualquer do dia, escrevo isso não para parecer uma carta, nem para parecer uma poesia, não sei mais se é prosa ou verso, escrevo para falar do reverso que é sentir sua ausência, sei lá, ser indefinido que me corrói as entranhas, que sobe pelo corpo e desgoverna a cabeça, não sei se chorei pelas crianças perdidas ou se por mim adulto solitário perdido nas calçadas da vida; chorei pelo homem-bicho das latas de lixo, chorei pela sua indiferença, senhor dos anéis de Saturno; não sei do ponto nem da vírgula, esqueci como se rima amor com coração, como se conjulga o verbo afagar, como se inspira uma poesia, quis falar com a alma pura de quem ama, com o peito em chama de quem ama, com o amor com o qual canta a cotovia, com os olhos, com esses olhos de quem ama e vê, mas que olha e finge que não viu, e só quem ama viu estrelas cadentes, como cristais que caem dos olhos profundos de quem chora desprezo, quem ama sabe a dor da vontade, o gosto da vontade só quem ama sabe o que é estar perto e longe ao mesmo tempo, pois se os pensamentos se aproximam, os corpos se afastam; olho no olho, pois se o destino separa, o olhar une com suavidade; chorei por você e por mim, pois se as mãos se unem, os lábios não dizem o que querem; sei lá se isto é poesia ou covardia, sei lá se isto é poema ou dilema, sei lá se isto tem estética ou me perdi no meio de uma prosa-poética; sei somente que quero gritar os hinos dos desatinos, reverter a anatomia e transformar intestinos em coração; ficar nu em todas as presenças..., meu corpo nu..., teu corpo nu..., a alma nua... , desprendida..., leve como o luar no quadrado da cama..., morrer de romantismo e gozo, desfalecer na sujeira da lama, na incerteza da fama, desvirginar a natureza nossa antes que a manhã nasça e acordemos desse sonho entre brumas que, tenho certeza, sonhamos juntos sem a coragem de acordarmos..., abraçados como um corpo único, como um pecado social, como uma salamandra única que sai da toca na manhã enevoada; chorei, ontem, pela letargia do momento, pelo instante do grito parado no ar..., na garganta..., pela indefinição do verbo amar..., por todas as ondas do mar..., por esta rima branca, sem mistério, chorei pelo poeta analfabeto em rima, chorei ontem por seu semblante triste..., triste..., pelo meu olhar distante..., tão longe... e triste, por não te encontrar nas curvas deste caminho, desencontro na arte do encontro, pois te perdi no dia em que te encontrei, chorei pela minha mão que quando te toca é com a distância de dois mundos separados pelas galáxias sem firmamento, separados pela luz do fingimento, pela infinitude do universo, chorei por Claras e Clarices, e... demais, chorei! Chorei pela embriaguês dos bêbedos dos calçadões..., pelos felizes bêbedos dos calçadões..., esquecidos que estão das solidariedades, das afinidades, das solenidade, das saudades, das iniquidades das almas..., chorei pelas palmas dos shows dos palhaços nos picadeiros, que como eu, poetas por inteiro, náufragos da fragata da existência..., chorei esta mistura de tudo que é este viver nosso; chorei por ter cansado de comer os restos, as migalhas dos banquetes dos bem sucedidos, chorei o amendoim murcho e a cerveja quente; chorei por seu perfume, pelo seu cheiro felino, por seu jeito... suave com gosto de prazer..., com mania de pecado.
Quis fazer este poema para chorar por você, meu desalento, meu desencanto, meu último suspiro antes da morte, meu único abraço depois da despedida, meu embaraço e felicidade, minha ferida resumida, meu alcance fora das mãos, meu pensamento em vão, minha doce tristeza, minha amarga ternura.
Quis fazer estes versos para gritar aos seus ouvidos que ainda te espero no destino, na rua dos preconceitos, longe do largo dos preceitos, na confluência da avenida dos corações partidos, diante da Igreja de Nossa Senhora das Lágrimas, quis fazer este poema para dizer que ainda sou seu ou sua, que ainda somos nós, mistura indefinida de nós mesmos, rio sem corredeira que nos cinge a face, para lembrar a lembrança, que de nós nunca lembrou, que de nós sempre fez pouco.
Fiz este poema sem ética, por você.
Fiz este poema sem estética, por você.
Fiz esta poesia longe da razão, por você.
Esquecido que estava do tempo, dos comedimentos, para servir de desabafo, lenitivo, pelas minhas almas perdidas, por meus sentimentos sofridos..., fiz por mim e por você!
SÉRGIO SOUZA
Quis fazer este poema para chorar por você, meu desalento, meu desencanto, meu último suspiro antes da morte, meu único abraço depois da despedida, meu embaraço e felicidade, minha ferida resumida, meu alcance fora das mãos, meu pensamento em vão, minha doce tristeza, minha amarga ternura.
Quis fazer estes versos para gritar aos seus ouvidos que ainda te espero no destino, na rua dos preconceitos, longe do largo dos preceitos, na confluência da avenida dos corações partidos, diante da Igreja de Nossa Senhora das Lágrimas, quis fazer este poema para dizer que ainda sou seu ou sua, que ainda somos nós, mistura indefinida de nós mesmos, rio sem corredeira que nos cinge a face, para lembrar a lembrança, que de nós nunca lembrou, que de nós sempre fez pouco.
Fiz este poema sem ética, por você.
Fiz este poema sem estética, por você.
Fiz esta poesia longe da razão, por você.
Esquecido que estava do tempo, dos comedimentos, para servir de desabafo, lenitivo, pelas minhas almas perdidas, por meus sentimentos sofridos..., fiz por mim e por você!
SÉRGIO SOUZA
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