sábado, 22 de janeiro de 2011

SENTIMENTALIDADE

        Quem parar para observar a vida percebe que tudo é poesia dentro de diversas versões. Quem um dia sonhou em versos imaginou poesias plenas e não versões torpes da existência. Quem um dia pensou na vida como realista realidade da realização humana, deparou com uma imagem surpreendente como quem passeia de barco pela primeira vez. Quem se definiu Drummond, deparou-se com os doze trabalhos de Hércules ou com a angústia pessimista, dos que sabem que a vida é uma sarjeta ou as limusines das avenidas.
     Todos os sangues são vermelhos embora alguns tenham outros tons, azul do céu acinzentado das elites ou matizes menos nobres das periferias ou dos versos de pés-quebrados, dos versos castigados por versões mais realistas.
       Falar do homem não é fácil porque este bicho dos recantos sem encontros é o único que sabe falar e sorrir, por isso é o choro das lágrimas mais sentidas da criação, sem coração.
      Existe um povo que a bandeira se emprega no domínio e na dominação dos povos, juntando em suas listas as estrelas da iniquidade e da insensatez que persiste e que paira soberana sobre a miséria das nações. Quem sempre amou o mais próximo sempre esteve distante dos evangélicos e das pregações, pois o Deus-Domínio reza ao som das balas de canhões ou ao eco dos torpedos, pois sobre todas as cabeças pairam os aviões de caça, ou o ser é a caça sem cabeça das cabeças coroadas, pela iniquidade dos seres mais próximos dos próximos Prósperos Senhores donos da Criação.
      O som dos desvalidos é o gemido abafado pelo silêncio do grito dos poderosos, o sono eterno é o bocejo único destes povos de Deus, que também sente o vangloriar da fome do corpo e da alma.
      Todas as poesias são versões da individualidade do poeta que o criador achou por bem fazer sua voz, toda versão é um corpo nu e violentado na cama imunda das negociatas ou pelo fato dos desmandos no bordel dos gabinetes, a vaidade é a maior cafetina da festa dos abastados ou no banquete de sobras dos desvalidos.
     Verdade é que quem busca verdade não busca versão, busca mentira, quem encontrou realidade fez poesia de amor, não que nesta versão a vida seja menos realista, é que o amor é a poesia-verdade na sombra sempre mentirosa da versão realidade.

SÉRGIO SOUZA

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