sábado, 27 de março de 2010

Retalhos de mim

Pus meu coração na contramão,
Não sei quem é amigo, não sei quem é irmão,
Sou do destino, sou pai da revolta,
Sou a náusea das flores, a contravolta do intestino,
Um pouco da voz rouca que canta
Meio menino, um pouco Santa,
Perigos mudos, devaneios, sonho dos necessitados;
Matriz sem cópia, Matrix dos enevoados,
Minha bala de alcaçuz tem gosto de sorvete de limão,
Os versos são desconexos,
Minha prosa é amor, meus fins são sexos,
Não nego a rima, mas trabalho em verso branco,
O relógio é meu caminho, as horas o descaminho,
Vejo o horizonte sem pote, pois roubaram o ouro da ilusão,
Numa falseada do coração noto as calçadas vazias,
A mão negando compaixão, as noites invadindo os dias,
Deitado nu diante da janela da vida, vem a chuva que molha,
Não consigo entender se sou eu mesmo ou a chuva que me olha,
Nas ruas, nossas e tuas, garotos andróginos e patins  lésbicos,
Exalando perfumes de pêssegos entre neblinas,
Cheiro que vem de dentro das meninas.
Sei lá se tudo não passa como uva passa ou passa a uva,
Só sei que deixei meu pensamento no porta-malas
E o coração no porta-luvas.

SÉRGIO SOUZA

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