quarta-feira, 13 de julho de 2011

FLOR SOLITÁRIA


Te peço desculpas poeta,
Por está vida repleta de inverdades,
Por este mundo cheio de necessidades,
Por esta dor sem sentido.

Te peço desculpas poeta,
Por esta mão estendida em sentido de esmola,
Por essa comida e este chão para dormir,
Por não poder dirimir a necessidade.

Te peço desculpas poeta,
Por esta felicidade de Pirro,
Por esta vontade de espirro,
Por este nada em que tudo se tornou.

Peço desculpas a mim mesmo por ter me enganado,
Por ter acreditado no homem,
Por ter aceitado você como amigo,
Por ter deixado levar pelo sonho da fidelidade infinita.

Peço, a todos, a você e a mim remissão do pecado de existir,
Ao sonhar com o direito ao sonho da realização,
Por persistir na incoerência da emoção
Pensando que ela era para todos.

Poeta, hoje é o dia da renúncia,
Porque a denúncia já não faz sentido,
O choro perdeu a razão
Minhas lágrimas já não te fazem sentido.

Poeta, hoje vou descer deste transporte,
Mergulhar na infinitude da doença social,
Gritar para que não me ouçam,
Respirar fundo até morrer de over dose de ar.

Poeta, o meu, o seu, os sentimentos estão perdidos,
Como perdidos estão os meninos das vielas,
As meninas das esquinas, as damas e cavalheiros noturnos,
Hoje soturnos vampiros, como meus reais sentimentos,

Poeta, morreu ontem de saudade a saudade que se sentia,
Morreu sem fita amarela de samba enredo
E nem eu ou você sentiu saudades dela
E com ela foi, sem medo, a esperança, ainda jovem, ainda criança.

Poeta as alternativas das sociedades já não existem,
O tempo já pára estagnado pelos horários dos metrôs,
A confiança é notívaga sombra dos bistrôs,
E os olhares afogados nas águas fundas dos ofurôs.

Poeta te peço desculpas por não ter mais alegrias nas minhas ruas,
Nem quarta feira de cinzas nas letras suas,
Nem mãos dadas em união,
Tudo hoje são meras flores roxas no túmulo da vontade
Lançadas nas lápides de rua lançadas ao chão.

Encontre-me, poeta, por entre os árvores dos parques e praças,
Ainda tenho que dizer muito mais para mim mesmo, portanto não se despeça
Há de existir no ermos de nós mesmos um último encontro, poeta;
Na rua, na esquina, na casinha de sapé
Para dizer que ainda o amor não morreu...
Nem que seja por mim mesmo!

SÉRGIO SOUZA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

fale o que pensa, mas pense antes de falar!