Falar,
escrever a palavra e o sentindo, do que se faz ou se sente, não é fácil sentir-se
com o interior, não é fácil fazer-se sentir com a verdade da palavra dita ou sugerida
pelo interior, por aquilo que vem de dentro e que faz o ser se virar em si
mesmo, difícil não é só viver é também fazer valer o real para o qual se destina
e para quem se destina. O saber com consciência não é para quem sabe fazer é
para quem sabe sentir com o interior, olhar no olho da verdade poética e se
dizer poesia, não aquele que o vento leva, mas aquela que o sonho embala, que a
mão toca, mesmo que seja na imaginação do seu interior, não a palavra dita por
ser dita, mas a bem dita da alma, aquela que o vento leva como indagação e trás
como resposta, aquela que faz vibrar o ser pelo próprio ser em busca do caminho
certo, da ilusão contida no vaso quente da imaginação dos corpos nas
quadraturas da vida.
Falar
dos interiores é caminhar por canais escuros e canalículas estreitas das mais
escondidas veias em busca de um eu referencial, muito antes do eu emotivo, é se
fazer verso muito antes de se sentir poesia, se fazer solução bem antes de se
sentir tese, amar um eu seu como quem ama a si incondicionalmente, amar uma
virtude interior como a capacidade de sentir e sofrer calado tendo o objeto ao
lado ou em posse de outrem, derramar a lágrima seca dos choram platonicamente seu
próprio interior, falar consigo mesmo é dizer mentiras sabendo verdades, é
chorar sorrindo, é partir sem nunca ter chegado.
A
imaginação é a mãe da ilusão e madrasta da verdade é ela que faz com que se
sinta preso ao pelourinho da insegurança, perdido da esperança, que é sempre um
lago lindo e azul, porém distante, é muito mais do que uma reticência ao final
de um texto.
O papel,
cúmplice das palavras, não reage as suas investidas e mesmo sabendo vencido,
não deixa de ser o canal ilustre dentro dessas palavras dentro das palavras, do
contexto dentro do texto, das mãos unidas no vazio, se o texto tem um endereço,
se a carta tem um destinatário este é o interior, a análise sintética do contras senso
do ser. Quando os olhares se cruzam falam destes interiores, mergulham no rio
raso das temeridades e das falas dos observadores e então emerge das sombras o
mostro do lago medo das palavras que o vento trás, pois o mesmo que leva as palavras
trás a resposta, alguém, um dia disse á beira do gramado das campinas do seu
interior que Deus fala na voz do vento, não há uma confirmação concreta disso,
como não há uma confirmação concreta do que realmente se sente, a ciência é
precária para tal, o sentimento entendido demais para tal preocupação, verdade
é tudo aquilo que pode parecer e se, tudo se perde no contexto das aparências saber-se
da verdade de cada um é mais complicado que vencer a geleira dos interiores dos
seres, tão complicado como querer explicar o imponderável, fazer poesia sem
palavras, amar um ser indiferente, dizer clarezas na escuridão da
ignorância, mas por fim se tudo voltado
para dentro é complicado, melhor é sentir com os olhos os sabores dos beijos
vivenciados com as mãos ou poeticamente desfilar rimas nos penhascos da
desilusão ou se perde na tez imperial, morena e serena de que nunca surgiu na
banheira ou escuridão do quarto dos minutos seus.
SÉRGIO SOUZA
Um torvelinho em forma de texto, Sérgio. A metalinguagem do sentir é uma meta, pois é radical, no sentido de raiz mesma. Continue!
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