Deixei
que a mão da poesia rabiscasse um poema,
Que
contivesse o cheiro das terras molhadas do interior,
Que
esquecesse os crepúsculos nostálgicos, àquela hora do nada,
Hora
aberta do não ser dia e nem noite.
Mas que
contivesse a esperteza da beleza safada dos neurastênicos do litoral,
Que não
fosse invasivo, mas verdadeiro, que não esquecesse a certeza das ruas,
A libido
dos alegres alheios aos tormentos dos que fecundam o sentimento.
Deixei,
sem medo, que a mão da poesia rabiscasse um poema,
Que não
falasse dos dilemas e incoerências e demência,
Mas que
fosse livre das liberdades estabelecidas, das forças ocultas,
Das
psicologias e dos divãs das manhas e manhãs sem maçãs,
Cujas
palavras não tivesse recado, mas a maravilha da consciência,
Que não
mencionasse a História ou Geografia,
Mas a
ilusão poética e patética dos soltos ares
Dos
versos de Moraes.
Uma poesia
que não tivesse data ou dia
Nem João,
nem Maria de açoite,
Nem
tarde ou noite, só uma poesia...
Sem
batucadas das madrugadas,
Ritmo ou
cadência,
Que
desprezasse a indecência da chegada ou da partida.
Encomendei
á mão da poesia um poema,
Só um
poema, sem eu ou você, mas todos nós,
Com
todos os nós que empatam o jogo das verdades,
Com
cheiro de poeira de estrada e a maresia da secas sertanejas,
Que
tivesse o esquecimento da lembrança,
Um toque
de adulta-criança, o adultério das confidências,
Nem
popular, nem erudito, só palavras,
Ao léu,
ao vento, sem saudade, sem verdade, sem mentira,
Só o
passo do compasso de quem anda sem sair do lugar,
De quem
corre para não chegar.
A mão da
poesia escreveu um verso que fosse tão somente um laço,
E
deixou, para que nunca chegou, porque nunca partiu,
Aquele
abraço!
SÉRGIO SOUZA
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