terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Donec mei



        Inspiração é mesmo uma coisa engraçada, faz dias caminho com os pés n´água, descalço na areia em busca dela, imagem distinta, dela..., figura única, aquela que vem de dentro, mas só a linha do horizonte me diz algo, fala comigo, reclama das ondas do mar, desse mesmo mar que me invade e recua e desaparece na linha do horizonte, sem poesia, sem prosa, ondas que refluxam sem a consistência que a vida pede.
            Caminho em primeira pessoa numa busca de algo exterior que complete este interior repleto e vazio numa incoerência inexplicável de sabedoria e inexatidão, uma busca do eu, que definitivamente dói, uma busca em você que está distante; por companhia a fumaça do cigarro incoerente, mas que nunca me falta ou me abandona.
               E assim vagueia o pensamento vazio pelas faltas sociais, pensando naqueles que nem a oportunidade tem de se amofinarem, lá vou eu “pseudozumbi” chutando vagas como quem chuta lata, assim me fiz e assim me optei, assim consegui chegar onde cheguei, assim choro uma ausência cada vez mais ausente por conta do memento, mas em que isso ajuda os abandonados filhos de África? Supostamente, desconfio, que em nada, mas foi do nada que surgiu a criação, foi do nada que se criou o inusitado, foi do nada que surgiu em mim a poesia, hoje tão fugidia, arredia mesmo do meu coração, que embora ferva de ilusões, imaginações, o cérebro coerente desengana, ah Inspiração, em que pedra desta praia se meteste a brincar de esconder com esta alma chorosa e solitária.
            Ah! A solidão! Nunca te chamei para viajar comigo ou mergulhar nas relvas dos jardins botânicos da vida, mas insistes em ser a companheira do meu destino, poderia mergulhar desnudo nestas águas que nem o pudor passaria por aqui para me repreender, mas tu, solidão, com certeza estaria escondida num grão desta areia para sorrir da minha insanidade.
              O quê foi feito de mim?
              Certamente nem o universo conspirador diria ou saberia, mas ela sabe e do alto de sua majestade diria algo para me impressionar ou definhar diante de todo este nada que me cerca, de nada tem adiantado pedir á inspiração que me resgate deste cativeiro em que me meti, meu prisioneiro escapou e eu fiquei detento de mim mesmo, pedindo migalhas pelo resgate deste interior esquecido.
            Ah Leitor, com certeza está compadecido de mim, mas quando virar a página ou passar o cursor mudando o tempo do assunto, não mais de mim se lembrará, porque a vida é assim, vem e vai com a sensação de que nunca saiu do lugar, assim sou eu, bravo valente guerreiro de outras jornadas, insinuante mestre de outras lições, com a nítida névoa pairante de que nada aconteceu, governos governam como sempre, cidadãos seguem como antes, os soldados marcham para a guerra que não inventaram, o Sol nasce todos os dias antes da Lua..., ou seria depois? Bem, aí depende de um referencial; como se nada tivesse saído dos seus lugares ou milhões de tempo contados em anos não tivessem passado. Na realidade tenho a impressão de que não passaram mesmo, tudo me parece como naquela manhã misteriosa depois das trevas da criação ou do “Big Bang”, que para cada um de nós, pode se resumir no dia do nascimento, de que do mar onde estava abriu-se a escotilha e me lançaram em terra firme sem saber respirar ou caminhar sem nadadeiras, tudo me parece muito igual, a mesma ânsia de conhecer, a mesma poesia por ser escrita, a mesma água vazante, tal como o mar de hoje, o mesmo tempo por percorrer, só me falta o afago das mãos, desinteressadas, amigas, verdadeiras, porque na vazante de hoje elas não mais existem e custam caro para qualquer carinho ou afeto, sempre apressadas dentro dos seus aluguéis, sejam eles quais forem.
             Momento de mim mesmo. Gostaria que não viesse me excitar, trazendo este prazer insosso, sem verdade e consistência, nem calor por persistência, nem gemido por consolação, numa conjugação solitária que nada lembra momentos de outrora, nem escudos ou espadas de batalhas épicas dos piratas destes mares.
            Mesmo diante desta Lua que corteja o mar, mesmo diante deste mar que conjuga com o horizonte, mesmo diante deste horizonte que espera o Sol, a esperança nomeada sem nome gravado me invade e infesta à lama em festa de espera, assim como poesia de pé quebrado, assim como quem sempre ousou e te confessa tentado na ousadia aventureira do novo-velho, não renega o que sempre sonhou e pensou, inspira-se, como fênix, com a certeza do beijo do mar na areia, da lama no espírito e pouco me importa a ordem, tenho a certeza de que meu pé pisou com fé, reverenciando sempre quem pode chegar onde pouca gente chegou.

SÉRGIO SOUZA

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